30.5.09

ONDE ESTÃO OS LEITORES?


Onde estão os devoradores de letras,
Os adoradores das palavras escritas,
Os vorazes engolidores das frases,
encharcadas do perfume raro que só os grandes épicos amores têm,
empapadas do suco espremido do suor das remadas rumo ao remido rosa céu dos românticos, os sonhadores,
traduzidas magistralmente em tipos pretos agrupados, preenchendo páginas brancas,
em parágrafos, capítulos, versos, diálogos, epílogos, prólogos, epígrafes, citações,
descrições detalhadas dos sofridos amores alheios, aventuras, épicos, sagas,
ornamentados de preciosas iluminuras, primorosas ilustrações,
encadernados nos compêndios, alfarrabios, brochuras, pergaminhos,
já não servem de caminho,
foram condenados às prateleiras, as estantes das livrarias, bibliotecas, aos sebos,
ao degredo, ao segredo, segregados a uns poucos afortunados.
No mais, passam ao largo, de permeio, permeáveis ao turbilhão das emoções diárias,
vão na direção contrária a tudo que se quer, felicidade, felicidade, felicidade...facilidade.
As cores que as palavras impressas tintam já não mais atingem os empedernidos corações,
As desditas malditas não lhes caem bem na fita,
Fingem que não sentem a dor que embora sintam.
O instantâneo, o momentâneo, o virtual valem mais que mil sopas de letrinhas!
O drama do garoto que faz a namorada e a amiga reféns, abriga todo o carrossel da fantasia anti-ética, a anti-estética trama, com direito a final trágico, recontada boca a boca como lenda urbana bacana, atrai e distrai, disfarça a farsa diária, dá combustível ao sofrível viver gris.
Estampada em foto a cores, o rubro sangue na face da menina é real!
Então, para que a ficção, os poetas, os escritores?
Muito menos os livros, que dirá dos leitores!

29.5.09

Tico


Só um tiquinho
Do tic-tac do tempo
Daria pra ver
Tudo que
O tico-tico vê
Quando voa.
Vai com ele meu pensamento
Um momento voa.
Veja lá tico-tico
Temos tempo
De reparar nas sementes
Pra uma nova plantação
Estamos no estio
Daqui a pouco vem a primavera
Elas brotarão
Novamente
Nova semente
Uma nova mente
Planando rasando
Vamos voando
Estamos dentro
Estamos de acordo
Acordados
Dados
Hóspedes do planeta
Plantemos nele
Novos elementos
Como momentos bons
Um tico de prosa
Com o tico-tico
E se sai a voar

27.5.09

FLÜT






Meu coração em rio
não deságua
nada nada
tudo bóia
suspenso
supresso
a deriva
vira vau
vaza tinto rubro sangue
ruge disrítmico
range dentes
rasga a carne
arde ainda que tarde
Covarde dádiva
Despe mais um dia
Diamantada dama
Vem a noite
Vadio Vago!


Te queria aqui
Quisera ainda mais ter-te meu amado para que domado possa mimá-lo lambê-lo como cria creia bebe-lo belo levá-lo a lonjuras as mais puras juras eia como queria rir contigo contíguo vertigo vê-lo verter sem tir-te nem guar-te aguardar-te aguar-te te agradar dar-te-me todo a ti
Ser teu servo
Servir-te blues na bandeja um dejá vú de delícias as mais caras caraminholas carinhosas casa odorada de rosas rosa chá chamá-lo amor orgulhoso oferecer-te salivados beijos jocosos sopros cordas cordato interlúdio do vento na orelha tema para violar largo largado perpétuo movimento motivação humorosa variação para flauta flute de espumante flutuação ação carregada de significado magnífico fico extasiado a imaginar-te imarginado flamulando em lençóis estendidos em sóis dois caracóis em espirais aspirando ares de ais concertantes instantes bons oboés oba é reprise do tema para dupla de baixos sem baixar a guarda dar tudo nada guardar nadar azuis silênciosos......