19.9.08

PRUMO



Dos quereres

Dos podres poderes

E por causa deles

Há os abismos, os istmos,

Vastidões cercadas por todos os lados,

Os costados dos desejos,

O bafejo da ganância,

A arrogância exalando exaltada,

A alterada força do ego.

Mas, nada move o tempo para trás,

Tudo em linha círculo cálculo métrica ritmo.

Afora aforismos,

Quantos malabarismos

Para manter o prumo,

O sumo conteúdo,

Lógica, raciocínio, tino, senso.

Penso logo divago,

Vago existo.

Macróbio invisto.


15.9.08

EM ESTADO DE TENSÃO



Em estado de tensão
As estrelas brilham no firmamento. Cadente, luz por um momento.
O pássaro, asas abertas, plana ao vento.

Em estado de tensão
A pulga pica e pula. Comprimidas unhas, sua existência anula.
Os dedos, levando à boca iguarias, saciam a gula.

Em estado de tensão
A flor as pétalas arranja, às vezes múltiplas, outras, laranja.
A borboleta, ao sugar-lhe o néctar, cores esbanja.

Em estado de tensão
O pinto, às bicadas, o ovo rompe, piando a vida irrompe.
O gavião, garras em riste, o ciscar interrompe.

Em estado de tensão
A linha contém o horizonte, sempre fugidio, sempre defronte.
A baleia, deslizando o mar esguicha em fonte.

Em estado de tensão
O cérebro traduz-se em poemas, rabiscados em magistral pena.
As palavras, em línguas maldosas, problemas.

Em estado de tensão
O gameta, o óvulo fertiliza, na natura um só sacraliza.
O sangue, bombeado, o sexo agiliza.

Em estado de tensão
Teu olhar raios emite,
Meus sentidos, alertados, gritam: Evite!

9.9.08

A Bruxa



Quando a bruxa está solta e voa no vento, trazendo no rastro da vassoura poeira com cheiro de mudanças, como notícia ruim, vem rápido, rompendo o ar, rasgando o vazio, rascante, vazante, chegando me derruba, me atira ao chão, chapado, de chofre, como o papel aluminizado, esvaziado do bombom, mastigado com prazer que, eu lhe dei com amor, erro, erro, como o desterro do amor, atirado como prata preciosa ao chão, ao léu e o vento levou, rodopiado, para longe, apartando de mim, minguando, o que meu era por direito, dileto, direto, desvirtuado agora, turvados olhos pelas lágrimas, vi o papelzinho riscando o chão, zunindo alumínio, como estrela cadente no céu despencada, despregada, deslizando, se afastando, distanciando o que a pouco era só intimidades, antes, certeza de constelação fixa no firmamento, agora vacuada, deixado só negror, vagando um lugar que era teu, porque eu te amava e tomava isto como certeza, então, tenho que desatar isto, já que, sem se importar com o que de mim seria, partindo, partido em pedaços, eu irei também em busca d'outros mares nunca dantes navegados, d'outros costados, onde encostar meu cansado ser do fado desastrado de dar meu lado mais amoroso a desavisados, desinteressados do que de mais precioso pode haver, há de haver quem queira, não encontrei ainda, mas, bem vinda esperança que me faz ter fé e olhos no futuro.

7.9.08

MUNDOS II



Dos mundos que os olhos de Van Gog viram,
Muitos ele pintou em tela e nos maravilhou.
Outros, de tão assombrosos, neles, perdeu-se.

4.9.08

MEMÓRIAS



Deus me acuda
De ficar corcunda
Tomar injeção na bunda,
De ficar pepé, de não juntar lé com cré,
Um mela cueca, fralda molhada, papinha às colheradas,
Esquecer os bons momentos,
Ser torturado pelos lamentos,
Espalhar aos quatro ventos ecos do que poderia ter sido,
Ser torturado pelo remorso,
Ter um troço e ficar troncho, mocho, mudo, brocha,
Ser carcomido pela inveja,
Ter como herança o ódio, a vingança.
Quero infindos dias luminosos,
De corpo rijo,
Capaz de me levar aonde baila o vento,
Às alturas,
Às lonjuras.
Ondas de puro amor quero surfar,
Ares, amores, mares,
Sempre renovados votos vitoriosos,
Até que a vida, em mim já extinta,
Tinja em belas cores, as lembranças, de mim espalhadas
Nas memórias de quem comigo partilhou.