29.7.08

BRASILIS



Dos sertões e veredas que Guimarães sabe,

Daquilo que me cabe, antes que acabe,

Quero conhecer, desbravar, desvendar,

Atravessar a linha do horizonte, subir aos montes,

Descerrar as matas, escorregar cascatas,

Passar por povoados populosos, outros assombrosos, dentro das sombras do tempo desterrados, derrocados,

Errar vazios desertos, casamatas abandonadas, estrada de peregrinos,

Procurar a alegria de meninos de aldeia, baleias singrando mares,

Trocar o estepe na estrada que parece furar a paisagem,

Perseguir miragens,

Adiantada hora, ir adiante, dormir sob as árvores à beira do regato,

Regar a árvore recém plantada no canteiro da cidade nova,

Tirar a prova dos nove, navegar o Solimões, o Negro,

Íntegro, ir ver qual é da Estrada de Ferro Madeira Mamoré,

Aonde der o caminho,

Comprovar o carinho da mãe índia apontando ao filho a trilha do rio,

O frio do Pico da Bandeira,

A beira do absurdo abismo, naufrágios no fundo do mar,

Maravilhar-me com Abrolhos,

Ter olhos para ver na escuridão o brilho dos olhos do jacaré,

Meter o pé na Vitória Régia,

Merecer uma prévia da cheia do Araguaia penetrando o Pantanal,

Afastar o mal na pajelança,

Presenciar festança no perdido Quilombo,

Subir a Serra do Tombo,

Ir até o Chapadão do Zagaia, onde nasce o velho Chico,

Se não for mico, quero viajar a Belém Brasília, do cerrado a Ilha de Marajó,

Meter o pé no pó,

Viramundo,

Doramundo,

Brasil do céu de anil, mil cores, brasilis mil,

Ir fundo, me perder.



26.7.08

MUNDOS



Mundos que se criam quase infindos quase lindos luzindo limites cambiantes tangentes rápido antes que acabem cabem instantes agora e além.



25.7.08

PURPURINADO CABRA




Fui escolhido ou escolhi?, para ser assim diferido e, me ter criado de modo a poder transitar, livrado das amarras, pelo mundo que me foi oferecido.

Muito tímido, fui olhando tudo, os modos, as intenções, antes das ações, com olhos curiosos, nos olhos, bem olhando, enxergando longe, encurtando a sombra, vendo a luz.

Reações à parte, fui tomando parte do movimento, me movendo com o vento, aprendendo a dançar.

Leve, corpo e alma e toda a calma, dos ruminantes talvez, antes confraternizando ou, eternizando o momento na memória, afetiva como sinal, salvando-o do comum, comunicando-o com além.

Luzindo o caminho, mesmo de espinhos, por ser assim, diferente, um cara que enfrente, encare de frente, enfeite com confeito, confete e serpentina, serpenteando como purpurinada cobra, o cara é cobra, me cobra o horóscopo Chinês, no mais estou fora do zodíaco, ou mesmo do Eneagrama e, nenhuma grama em mim comporta um comportamento estereotipado, pois meu equipamento está antenado a um sinal que vem do sol central da galáxia, ou mesmo que falácia, nada flácido me põe ereto, quero o reto, o preto e o branco, o banco de reservas recheado de belezas, dispostas, todas, a driblar a obviedade e levar às tribos a verdade de ser inteiro, completo, na aposta dos contrários, perfazendo o um.



18.7.08

DESFOCADOS

O índio não tem mais valor.

Valem os diamantes,

O ouro,

O ferro,

O bicho,

A madeira,

A castanha,

A água,

A taba,

A oca,

Ar e terra,

E tudo o mais que ele ocupa.

Mas nem te preocupa, diz o branco espertalhão, vamos ser práticos, isso valem milhões, vocês serão bem recompensados com alguns espelhinhos, para que, assim, olhem bem as pinturas tribais e não apareçam borrados nas fotos dos turistas dos parques temáticos.


UNICÓRNIOS E RINOCERONTES




O amor só rima com dor quando em desalinho com o caminho natural, mal posto, ditadura imposta, aposta oposta a proposta interna, perna calçada na caminhada do ser, certeza única, túnica revestida de corpo, sangue, pele, osso, poço perecível, falível diante da eternidade, ainda mais se acrescida de vaidades, vilanias, para locupleição momentânea, não sacia aquela fome que nos consome quando queremos mais e não sabemos o que nos anima a ir adiante, mesmo que tudo em volta nos diga que é inútil procurar chifre em cabeça de cavalo, porque, certamente, encontraremos unicórnios, que são seres fantásticos, mágicos, míticos e, nos levam a uma outra dimensão, a da fantasia ou, então, rinocerontes, são quadrúpedes, selvagens, da ordem dos ungolados, com até dois chifres, enormes e, teremos de nos haver com eles, porque não são bichos fáceis de se lidar.



CENTELHA



Quero voltar ao colo da Imperatriz, quando qualquer centelha incendeia uma torrente de sentimentos a serem expostos em prosa e versos plenos de conteúdo, sem que, abelhudo, o sisudo Imperador venha pesar-lhe os prós ou contras, numa total afronta a Eros reinante, diante do Logos pensante.



8.7.08



Quais palavras

movem montanhas,

abrem corações,

secam lágrimas, sacam risos,

confortam, consolam,

esclarecem,

colocam cara a cara com o divino,

com o próprio menino,

arremedam um lar,

afastam o medo de amar,

largam a mão, dão a direção,

indicam a intenção,

trazem a razão,

arrasam argumentos fúteis,

tornam inúteis injúrias,

amansam fúrias,

cansam línguas,

põem a mingua mágoas antigas,

apartam brigas,

abrigam amigos,

trazem perto o longe,

traduzem o canto de monges,

fazem do certo um concerto,

mostram o confiável,

tornam o viável possível,

confinam, enfim, o infinito dentro do cabível,

para que livrados da angústia da vastidão,

nos console,

com caloroso colo,

de mãe ou de amor,

afinal, solo fértil,

onde florir, frutificar.



ARTE



Devorar-te,

Dourada tarde,

Demorada arte,

Dolente parte.




O amor que não é mais feito, é desfeito, deserdado, desdenhado, dado ao lixo, lixado, rixado aos repelões, aos palavrões, partido, repartidos em caixas de papelão, então, isto é meu, eu quero, o que foi querido, partido em pedaços, despedaçados os laços, descompassados os passos, passa ao largo, larga isso, cada um agora é um, o que era dois é agora individuo, indiviso, infuso, infernal esparrame, derrame pelo chão de fotos, fatos descorados pelo desamor, delatado, denunciando o que antes eram diamantes de um tempo brilhante, radiante, exuberante, nós, enleados, enlevados, insânes de inominável arrebatamento, momentos mágicos, misteriosos, perenados em instantâneos Polaroides cromadas, atiradas cruamente, cruelmente, dementemente, lamentavelmente perdidos para o desprezo, expondo a publico a nudez do que foi íntimo, intimando-os a exibição vexatória, a olhares leigos, alheios, voyeurs, relegando-os a categoria de passado, desprezível, dispensado, a ser depreciado nas conversas infamantes, à apreciação de novos amantes, quando em rompantes de raivas revoltadas e revisitadas memórias doridas, porque, do vivido só soube guardar o que de pior, piolhos, percevejos, pulgas, lêndeas, lendas mal contadas, a serem repisadas, repetidas ao infinito, lamentável grito de você não soube me amar, quando se sabe que o amor depende de querer, comprometer-se com o momento, de minuetos a três tempos, dançado a baião de dois, dosado trago, tango, mambo, muita comédia e nunca tragédia, à media luz, iluminando a crença de que no outro somos muito mais que um perdido, um achado tesouro a ser resguardado de perigos, inimigos, piratas e piranhas, quando nos entranha e parece fazer parte do ser.


ESPERA


Tua espera

Me deixou em suspenso.

Apenso, ao meu pensamento tenso,

Uma ânsia,

Na vacância

Do teu vulto,

Oculto na ausência,

Dando ciência

Da importância

Do teu ser.