14.12.08

BBB



Uns bambas
Outros bambos
Uns bombados
Outros bobões
Uns do babado
Outros babões
Uns banca
Outros banana
Uns batata
Outros barra
Uns brincam
Outros broncos
Uns brindam
Outros brigam
Uns bichas
Outros bichados
Uns bacanas
Outros babacas
Uns bonitos
Outros banais
Uns bola
Outros bolados
Uns brabos
Outros brandos
Uns brotam
Outros broxam
Uns belos
Outros bélicos
Uns beatos
Outros bebados
Uns bofes
Outros bibas
Uns barbeiros
Outros barbudos
Uns bentos
Outros bestas
Uns beijam
Outros beiçam
Babou, meu bom?

ARREMEDO



Nada a perder
Tive tudo e nada meu
Hoje tenho a rua
A verdade nua e crua
Do meu desandar
Desarmados laços
Caço sonhos desfeitos
Feito louco componho
Ponho tudo em desconexos versos
Desconverso
Digo o reverso
Sopro na prosa o que desaprovo
Provo com pimenta
Tudo que me tenta
Atento ao tempo
Tento tanto quanto posso
Passo ao largo
Largado feito gado no pasto
Logro ser vasto
Astro de nenhuma constelação
Intento o que não entendo
Dou voz a lenda
Velo a emenda
Se não valeu
Remendo
Arremedo
Mas não morro de medo!

19.10.08

VELÔ



Velô Circulandô
No trem das cores
O Araçá azulou
Tocou a Central
Eu quero! Eu quero!
Um mulato quente das Noites do Norte
Santo Amaro Dona Canô ao mundo
Maria Bethânia please sing to us
Que mistério tem Júlia um quisá Moreno
Dedé! Dedé!
Qualquer Jóia
A Tal Baby Profana
Uns quantos vão ver London London
Roçando os flancos da língua num trem de metrô
Alegria hoje é dia Walking down to the sound
No meio de tanta gente Estampa finas fibras tensas
Ninguém mais feliz
Comum Qualquer um
Um Caetano acalenta-nos encanta-nos canta-nos
Indefinidamente amar!

12.10.08

Sax Sexo



Sax suave

Sexo selvagem

Salivam

Silvam

Soam

Suam

Salvam



3.10.08

RETORNO


Como retomar o caminho de quando ainda luzia teu olhar por mim encantados que éramos naquilo que circunavegávamos ilhas continentes afluentes vertentes um para o outro extravazados travestidos de miraculosos seres licornes intermediários leviatãs entre realidades paralelas janelas para mundos abissais colossais impérios poderosos impérvios a impermissos promissores androceus o teu e o meu angelinos meninos brincando de paraíso e o que é preciso parafrasear ou pantominar para de novo adular teu gosto e fazer teu gesto palpitar pândego e voltar ao carrossel ou à cama de dossel para gandaiar gabola lado a lado fado de desabutinado desatino do meu frutuoso fabuloso porvir talvez provar do estio estender o tempo depois da chuva vista da varanda para então sair a passear a terra molhada e ver arcos irisando o céu crendo outra vez que o milagre do amor é possível e é crível a aliança à confiança depositada num cofre chamado coração.



19.9.08

PRUMO



Dos quereres

Dos podres poderes

E por causa deles

Há os abismos, os istmos,

Vastidões cercadas por todos os lados,

Os costados dos desejos,

O bafejo da ganância,

A arrogância exalando exaltada,

A alterada força do ego.

Mas, nada move o tempo para trás,

Tudo em linha círculo cálculo métrica ritmo.

Afora aforismos,

Quantos malabarismos

Para manter o prumo,

O sumo conteúdo,

Lógica, raciocínio, tino, senso.

Penso logo divago,

Vago existo.

Macróbio invisto.


15.9.08

EM ESTADO DE TENSÃO



Em estado de tensão
As estrelas brilham no firmamento. Cadente, luz por um momento.
O pássaro, asas abertas, plana ao vento.

Em estado de tensão
A pulga pica e pula. Comprimidas unhas, sua existência anula.
Os dedos, levando à boca iguarias, saciam a gula.

Em estado de tensão
A flor as pétalas arranja, às vezes múltiplas, outras, laranja.
A borboleta, ao sugar-lhe o néctar, cores esbanja.

Em estado de tensão
O pinto, às bicadas, o ovo rompe, piando a vida irrompe.
O gavião, garras em riste, o ciscar interrompe.

Em estado de tensão
A linha contém o horizonte, sempre fugidio, sempre defronte.
A baleia, deslizando o mar esguicha em fonte.

Em estado de tensão
O cérebro traduz-se em poemas, rabiscados em magistral pena.
As palavras, em línguas maldosas, problemas.

Em estado de tensão
O gameta, o óvulo fertiliza, na natura um só sacraliza.
O sangue, bombeado, o sexo agiliza.

Em estado de tensão
Teu olhar raios emite,
Meus sentidos, alertados, gritam: Evite!

9.9.08

A Bruxa



Quando a bruxa está solta e voa no vento, trazendo no rastro da vassoura poeira com cheiro de mudanças, como notícia ruim, vem rápido, rompendo o ar, rasgando o vazio, rascante, vazante, chegando me derruba, me atira ao chão, chapado, de chofre, como o papel aluminizado, esvaziado do bombom, mastigado com prazer que, eu lhe dei com amor, erro, erro, como o desterro do amor, atirado como prata preciosa ao chão, ao léu e o vento levou, rodopiado, para longe, apartando de mim, minguando, o que meu era por direito, dileto, direto, desvirtuado agora, turvados olhos pelas lágrimas, vi o papelzinho riscando o chão, zunindo alumínio, como estrela cadente no céu despencada, despregada, deslizando, se afastando, distanciando o que a pouco era só intimidades, antes, certeza de constelação fixa no firmamento, agora vacuada, deixado só negror, vagando um lugar que era teu, porque eu te amava e tomava isto como certeza, então, tenho que desatar isto, já que, sem se importar com o que de mim seria, partindo, partido em pedaços, eu irei também em busca d'outros mares nunca dantes navegados, d'outros costados, onde encostar meu cansado ser do fado desastrado de dar meu lado mais amoroso a desavisados, desinteressados do que de mais precioso pode haver, há de haver quem queira, não encontrei ainda, mas, bem vinda esperança que me faz ter fé e olhos no futuro.

7.9.08

MUNDOS II



Dos mundos que os olhos de Van Gog viram,
Muitos ele pintou em tela e nos maravilhou.
Outros, de tão assombrosos, neles, perdeu-se.

4.9.08

MEMÓRIAS



Deus me acuda
De ficar corcunda
Tomar injeção na bunda,
De ficar pepé, de não juntar lé com cré,
Um mela cueca, fralda molhada, papinha às colheradas,
Esquecer os bons momentos,
Ser torturado pelos lamentos,
Espalhar aos quatro ventos ecos do que poderia ter sido,
Ser torturado pelo remorso,
Ter um troço e ficar troncho, mocho, mudo, brocha,
Ser carcomido pela inveja,
Ter como herança o ódio, a vingança.
Quero infindos dias luminosos,
De corpo rijo,
Capaz de me levar aonde baila o vento,
Às alturas,
Às lonjuras.
Ondas de puro amor quero surfar,
Ares, amores, mares,
Sempre renovados votos vitoriosos,
Até que a vida, em mim já extinta,
Tinja em belas cores, as lembranças, de mim espalhadas
Nas memórias de quem comigo partilhou.

31.8.08





Almas
Leves
Livres
Mesmo Breves
Brilham


23.8.08

DIAMANTES DIAS MUNDOS DAS MENTES DE AMANTES



Dar ao mundo diamantes das mentes.

Amar o mundo feito amantes, sem limites, incondicional,

Ofertar diamantes.

Amar sem a mente, sem mentiras.

Tirar a mente da frente, ir adiante,

Adiantar o mundo.

Mudar o modo de ver o mundo.

Dar ao mundo corações de diamante,

Corações amantes

Antes que o mundo acabe.

Cabem no dia mentes, amantes, diamantes.

Não cabe no mundo medo, dementes, mentiras, doenças.

Cabem no dia andanças, danças, crianças,

A crença de que o mundo tem cura.

Mudar a mente das crianças, plantar a semente,

Fazê-las crer que a cura do mundo

Esta em seus corações, puros, como diamantes,

E que, com eles, amantes de um mundo terno,

Ele será eterno.


19.8.08

VERÃO



Refazendo o caminho

Carinho ao repisar a trilha antiga

Cantiga entoada por ancestrais

Maestrais sulcos da recriada roça

Troça na hora dos folguedos

Brinquedos de pés nus nas águas limpas dos riachos

Cachos de uvas maduras colhidas da parreira

Correria de crianças Momento ternura

Tranças desfeitas ao vento

Pereiras Caquizeiros Alecrim Rolinha João de barro

Carreta de bois carregada de lenha rinchando rodas

Carreira de cavalos chucros

Apojo recém tirado do ubre da vaca, quentinho, grosso, sustante

Louro brando ao sol Milho verde assado na brasa do fogão de lenha

Soluções simples como sorrisos

Ovo saído cantado da galinha Abóboras de pescoço deitadas no canteiro

Lisos frutos maduros Caroço de pêssego Amendoim arrancado em rama

Puros sonhos compartilhados

Bodoque Libélulas Tacho de perada A matança do porco

Trilhados caminhos dentro do verde da mata

O finadinho O insubmisso O charque O circo A charrete

Farta pescaria de peixes tremeluzindo prata

Lebre Libra Verticot Pinico Xiribi Rebenque Palheiro

Desentortar pregos enferrujados no pedaço de trilho

Cão farejando toca de tatu

Jeca com enxada voltando na estrada

Mogango com leite Vassoura de guanxuma

Tirada água do poço para ao poente o banho Encher a talha

Lanho nas pernas de espinho ardido Roseta na sola do pé

Tremido jantar iluminado pela luz do lampião a querosene

Partido trem ao fim do verão

Perene amor de mãe esperando na estação.



5.8.08






PERDIÇÃO


Em qualquer canto do planeta
neste preciso momento
tem alguém vendendo a alma ao diabo.
Apóstata propondo por um punhado de dinheiro
cacife de aposta
proposta indecente
desonesta oferta de conluio em negociata
tratativa de agiotas
agenciando garotas
miando gírias
mascando misérias
mascarando dores
abrindo pernas
beirando barreiras
rompendo hímens
hifenizando abismos
hiatos de infância perdida
jogada como carne fresca para a fome de tubarões.

3.8.08

OFÍCIO



Que por si

O garimpar palavras

Liberte diamantes

Que o ofício da poesia

Propicie o pão

Mesmo que escalavre às unhas o mármore

Onde inscrever indelével

Versos leves, que elevem, relevem, revelem,

Levem longe

À música das esferas, à noosfera,

Amansem as feras,

Fale a línguas dos anjos, dos homens, das crianças

Alcance,

Faça a festa sem disfarce e a alegria contagie, anime, fantasie

Ponha a verdade nua em pêlo

Pelo zelo, pelo amor, pelo desvêlo

O relevante

Sol no levante, clarificando as mentes

Sem mentiras

Com cuidados de amante

Penetre a pele

Entre rente como melodia

Pelos sete buracos da cabeça

Roce o céu da boca semeando fertilidade

Passe pelos labirintos e, ao encontrar a saída,

Faça feliz às meninas que vivem em todos os olhos



29.7.08

BRASILIS



Dos sertões e veredas que Guimarães sabe,

Daquilo que me cabe, antes que acabe,

Quero conhecer, desbravar, desvendar,

Atravessar a linha do horizonte, subir aos montes,

Descerrar as matas, escorregar cascatas,

Passar por povoados populosos, outros assombrosos, dentro das sombras do tempo desterrados, derrocados,

Errar vazios desertos, casamatas abandonadas, estrada de peregrinos,

Procurar a alegria de meninos de aldeia, baleias singrando mares,

Trocar o estepe na estrada que parece furar a paisagem,

Perseguir miragens,

Adiantada hora, ir adiante, dormir sob as árvores à beira do regato,

Regar a árvore recém plantada no canteiro da cidade nova,

Tirar a prova dos nove, navegar o Solimões, o Negro,

Íntegro, ir ver qual é da Estrada de Ferro Madeira Mamoré,

Aonde der o caminho,

Comprovar o carinho da mãe índia apontando ao filho a trilha do rio,

O frio do Pico da Bandeira,

A beira do absurdo abismo, naufrágios no fundo do mar,

Maravilhar-me com Abrolhos,

Ter olhos para ver na escuridão o brilho dos olhos do jacaré,

Meter o pé na Vitória Régia,

Merecer uma prévia da cheia do Araguaia penetrando o Pantanal,

Afastar o mal na pajelança,

Presenciar festança no perdido Quilombo,

Subir a Serra do Tombo,

Ir até o Chapadão do Zagaia, onde nasce o velho Chico,

Se não for mico, quero viajar a Belém Brasília, do cerrado a Ilha de Marajó,

Meter o pé no pó,

Viramundo,

Doramundo,

Brasil do céu de anil, mil cores, brasilis mil,

Ir fundo, me perder.



26.7.08

MUNDOS



Mundos que se criam quase infindos quase lindos luzindo limites cambiantes tangentes rápido antes que acabem cabem instantes agora e além.



25.7.08

PURPURINADO CABRA




Fui escolhido ou escolhi?, para ser assim diferido e, me ter criado de modo a poder transitar, livrado das amarras, pelo mundo que me foi oferecido.

Muito tímido, fui olhando tudo, os modos, as intenções, antes das ações, com olhos curiosos, nos olhos, bem olhando, enxergando longe, encurtando a sombra, vendo a luz.

Reações à parte, fui tomando parte do movimento, me movendo com o vento, aprendendo a dançar.

Leve, corpo e alma e toda a calma, dos ruminantes talvez, antes confraternizando ou, eternizando o momento na memória, afetiva como sinal, salvando-o do comum, comunicando-o com além.

Luzindo o caminho, mesmo de espinhos, por ser assim, diferente, um cara que enfrente, encare de frente, enfeite com confeito, confete e serpentina, serpenteando como purpurinada cobra, o cara é cobra, me cobra o horóscopo Chinês, no mais estou fora do zodíaco, ou mesmo do Eneagrama e, nenhuma grama em mim comporta um comportamento estereotipado, pois meu equipamento está antenado a um sinal que vem do sol central da galáxia, ou mesmo que falácia, nada flácido me põe ereto, quero o reto, o preto e o branco, o banco de reservas recheado de belezas, dispostas, todas, a driblar a obviedade e levar às tribos a verdade de ser inteiro, completo, na aposta dos contrários, perfazendo o um.



18.7.08

DESFOCADOS

O índio não tem mais valor.

Valem os diamantes,

O ouro,

O ferro,

O bicho,

A madeira,

A castanha,

A água,

A taba,

A oca,

Ar e terra,

E tudo o mais que ele ocupa.

Mas nem te preocupa, diz o branco espertalhão, vamos ser práticos, isso valem milhões, vocês serão bem recompensados com alguns espelhinhos, para que, assim, olhem bem as pinturas tribais e não apareçam borrados nas fotos dos turistas dos parques temáticos.


UNICÓRNIOS E RINOCERONTES




O amor só rima com dor quando em desalinho com o caminho natural, mal posto, ditadura imposta, aposta oposta a proposta interna, perna calçada na caminhada do ser, certeza única, túnica revestida de corpo, sangue, pele, osso, poço perecível, falível diante da eternidade, ainda mais se acrescida de vaidades, vilanias, para locupleição momentânea, não sacia aquela fome que nos consome quando queremos mais e não sabemos o que nos anima a ir adiante, mesmo que tudo em volta nos diga que é inútil procurar chifre em cabeça de cavalo, porque, certamente, encontraremos unicórnios, que são seres fantásticos, mágicos, míticos e, nos levam a uma outra dimensão, a da fantasia ou, então, rinocerontes, são quadrúpedes, selvagens, da ordem dos ungolados, com até dois chifres, enormes e, teremos de nos haver com eles, porque não são bichos fáceis de se lidar.



CENTELHA



Quero voltar ao colo da Imperatriz, quando qualquer centelha incendeia uma torrente de sentimentos a serem expostos em prosa e versos plenos de conteúdo, sem que, abelhudo, o sisudo Imperador venha pesar-lhe os prós ou contras, numa total afronta a Eros reinante, diante do Logos pensante.



8.7.08



Quais palavras

movem montanhas,

abrem corações,

secam lágrimas, sacam risos,

confortam, consolam,

esclarecem,

colocam cara a cara com o divino,

com o próprio menino,

arremedam um lar,

afastam o medo de amar,

largam a mão, dão a direção,

indicam a intenção,

trazem a razão,

arrasam argumentos fúteis,

tornam inúteis injúrias,

amansam fúrias,

cansam línguas,

põem a mingua mágoas antigas,

apartam brigas,

abrigam amigos,

trazem perto o longe,

traduzem o canto de monges,

fazem do certo um concerto,

mostram o confiável,

tornam o viável possível,

confinam, enfim, o infinito dentro do cabível,

para que livrados da angústia da vastidão,

nos console,

com caloroso colo,

de mãe ou de amor,

afinal, solo fértil,

onde florir, frutificar.



ARTE



Devorar-te,

Dourada tarde,

Demorada arte,

Dolente parte.




O amor que não é mais feito, é desfeito, deserdado, desdenhado, dado ao lixo, lixado, rixado aos repelões, aos palavrões, partido, repartidos em caixas de papelão, então, isto é meu, eu quero, o que foi querido, partido em pedaços, despedaçados os laços, descompassados os passos, passa ao largo, larga isso, cada um agora é um, o que era dois é agora individuo, indiviso, infuso, infernal esparrame, derrame pelo chão de fotos, fatos descorados pelo desamor, delatado, denunciando o que antes eram diamantes de um tempo brilhante, radiante, exuberante, nós, enleados, enlevados, insânes de inominável arrebatamento, momentos mágicos, misteriosos, perenados em instantâneos Polaroides cromadas, atiradas cruamente, cruelmente, dementemente, lamentavelmente perdidos para o desprezo, expondo a publico a nudez do que foi íntimo, intimando-os a exibição vexatória, a olhares leigos, alheios, voyeurs, relegando-os a categoria de passado, desprezível, dispensado, a ser depreciado nas conversas infamantes, à apreciação de novos amantes, quando em rompantes de raivas revoltadas e revisitadas memórias doridas, porque, do vivido só soube guardar o que de pior, piolhos, percevejos, pulgas, lêndeas, lendas mal contadas, a serem repisadas, repetidas ao infinito, lamentável grito de você não soube me amar, quando se sabe que o amor depende de querer, comprometer-se com o momento, de minuetos a três tempos, dançado a baião de dois, dosado trago, tango, mambo, muita comédia e nunca tragédia, à media luz, iluminando a crença de que no outro somos muito mais que um perdido, um achado tesouro a ser resguardado de perigos, inimigos, piratas e piranhas, quando nos entranha e parece fazer parte do ser.


ESPERA


Tua espera

Me deixou em suspenso.

Apenso, ao meu pensamento tenso,

Uma ânsia,

Na vacância

Do teu vulto,

Oculto na ausência,

Dando ciência

Da importância

Do teu ser.


29.6.08



Se eu dissesse você é meu, pelo mesmo por um tempo, seria a Glória, ho! Glória.

Sons de bandolins não faltariam, seria primavera e tudo ficaria florido,

Sim, haveria algum alarido, rajadas de vento mas, o repicar de cordas tangidas, traria a melodia, orquestrando, de modo Strawinskiado, Vivaldiando, vadiando a vida a dois, as Bachianas número 2 baqueando os corações, compassados, serelepes pela campina a capinar ou campesinos a campear cavalos e nos intervalos, beijos briosos, brioches, fantoches, fala macia, uma bacia para banhar os pés e nada faltaria para fazer companhia.

Se você fosse meu, aventureiros seríamos, companheiros, pioneiros, peregrinos, ponteiros, agulhas, espadas, ases do volante, flutuantes, movediços, mestiços mixados, sangue e carne e tudo que arde, ainda que tarde, demore, atrase, mesmo assim, que extravase, arrase ao arremeter rompante, incontido, metido a dentro, invasor, mesmo que haja dor, será a valer, levado na toada das almas lavadas, passadas a ferro e fogo, mesmo jogo, dê alento, dê sustento ao sonho.



28.6.08

INSTRUÇÔES PAGÃS

Comer o pão
Com o óleo e o sal.
Alterar o sacro ofício.
Banhar-se na pia batismal,
batizar o mal.
Babar o ovinho do cramulhão.
Aí, fritar breve ou,
Assar a pomba
Do Espírito Santo.




ORAÇÃO

Meu santoantoninho, meu santinho, sou também Antonio, como se ser homônimo nos fizesse próximos, mas como devoto, peço seu voto ao meu pedido: Abrigo pro meu coração desabrido, repartido, partindo sempre para o próximo partido, sem encontrar abrigo. Um carinho, um carinha, uma caminha com cobertor de orelha, um cafuné profundo. Pois meu mundo, confuso, profuso, difuso, difratado, pode ser compartido, partilhado, palmilhado a dois, tateado a dedos metidos adentro, entrado em mim, indo ao âmago, ao estômago, entranhas, estranha forma de amar, porque o alaúde não me ilude se não for dedilhado. Por isso venho, humilhado, de joelhos dobrados, crente, reverente, penitente, para que atentes e intercedas junto ao menino que carregas ao colo, que coloques como prioridade e torne verdade a possibilidade de um amor duradouro, porque no fundo sou casa-douro. Com tua benção, meu Santo, Santo Antonio, Casamenteiro.


LOUVAÇÃO

Ser pão
No altar do sacrifício,
Óleo e sal
Na pia batismal,
Beber o vinho da comunhão,
Aí, voar leve nas asas do Espírito Santo.


21.6.08

SOLTINHO



Sou soul!

Sou só, sou sol!

Soltinho, solfejando harpas, arpejos, soltando farpas, farsando ar de quê?

Marechal da banda, carnaval, umbanda, uma banda das boas, boa bunda!

Maior ou menor máximo ou mínimo divisor comum, comum demais, dê mais!

So so, soa assim tão mais ou menos, more or less, lesado!

Qués, qués, se não, tem quem aceite.

Azeite a cama e verá o tamanho da fama, como era grande!

Grandes coisas, África, Américo viu, foi de navio, de barco, caravela, agora é que são elas, que sei eu delas, numa delas ele dobrou o Cabo da Boa Esperança.

Ela, nunca se alcança, está sempre mais pra lá, mais adiante, ainda distante, além, mesmo de trem, será que lhe fica bem o assédio?

Que tédio, fastio fatiado feito finas fitas, desditas sem remédio, ditosas deusas, sinas assassinas.

Eleusinas celebrações à Ceres.

Segues bajulador, babador, adorador, dormente, deitado ao largo, largado na larga estrada, estreando sempre um novo espetáculo, calculo que bem aceito pela crítica, raquítica afinal, finalizo cavando sete talentos, tolamente expostos às luzes do refletor, ao calor do olhar do outro.

Há, calar!

Claro ando! Mancando talvez, mastigando pela raiz, indo a matriz, matizando fontes, subindo aos montes, mesmo que de esterco, torço, rezo terço, tróço, quase tenho um treco ou destronco um membro, se bem me lembro das micagens.

Micaretas à parte, que é arte, minha parte partida ao infinito!

A heart, arrasto um bonde por um, umbigada é bom, bondade também, vem dele, dá-lhe mais, dar-se todo, tornar-se, certamente ser um, big coração, corar, brigar, correr nunca, crer que há!



jazz

20.6.08

Hai Kai



Vem a tarde, arde amena.

Desalenta a vontade urgente do ausente beijo.


Cai a noite, vem serena.

Desce dolente o desalento do ansiado beijo.


Alta noite, cai sereno.

Dói veneno a ausência suspirada do beijo.



19.6.08

14.6.08

OUTONO

ENCONTRO

Ato V

Escorregaram de volta a bolha, felizes como esperanças, vertendo crianças por todos os porões.

Tão perto se sabem que jubilam-se em compactuar.

Acendem velas, incensos, banham-se demoradamente, alimentam-se de leves iguarias, inebriam-se de licores, tingem-se cores, envidados internam-se num mundo senso, tocados das peles transformadas sedas, pérolas, particulares especiarias, adamascados veludos, profundos oceanos de marinhos seres abissais, singrando aquática maciez de escarpelar às unhas, alturas aéreas, distendendo asas dilatadas, miríficas, meeiros da mesma miragem, voragem de internarem-se, inteiramente orgânicos em mundos orgiáticos, profanos, proficientes de margens tangíveis apenas pela imaginação cambiante de volátil aprofundar vigoroso em mina minerval, escorrendo lava vulcânica, orgástica urgência de eras de gestação no núcleo incandescente, indecentes, desejosos de dar ao outro o melhor, orgulhosos, mergulham-se e emergem eminentes.

- Estou inteiro, mas partido o id, o self, posso perder o prumo, os sonhos se contemplam revalidos.

- Tome minhas mãos e firme a vazante do instante, assim ele se eternizará no trono da revoada de riquezas revistas.

- Monarcas migratórias passeiam, hóspedes, pelos quadrantes de nossos mapas astrológicos.

- Loucos hunos invadiram a lógica do céu dos crentes, sem misericórdia.

- Medra em mim milagre mirabolante, a ser compartido, como o pão do sacrifício.

- Oreáde bosqueia flores ordinárias, na opulência do meu peito, para ofertar-te reverente.

- Gema essencial dos meus versos, âmago do mais puro, congela o fogo desta vela e desvela a rima.

- Encastoado em casulo encantado, o reverso é versátil ao câmbio e se apronta nubente ao nirvana.

- Nuanças macias perpassam a nulidade dos sentidos, faleço.

- Legitimemos o chamado, adiantada hora, deixemos o limbo investir épico, durmamos.

- Amém amor, amém!

NOSTALGIA





Não sei de onde sai esta nostalgia, que me comove às lágrimas, ligado a tudo que é belo, como se bala perdida, abalasse meu ser, cerzindo-me à plenitude, plangendo as cordas de todas as virtudes que habitam em mim, minando de tal maneira que me levo à beira de precipícios, hospícios, ou ao início de uma aventura que me foge a lógica e cria uma mágica, uma mística sem ética, herética, que na prática me atira ao vácuo, vagando em mim lugar que poderia ser preenchido por você, um amor.

5.6.08

ENCONTRO


Ato IV

Vão ao vestiário valorar vestes válidas à vida vigente.

Leves, como anjos, descidos recém a terra, descobrindo os haveres, os prazeres de ser gente, misturam-se aos passantes, antes, roçando, livres, ao largo das convenções, das conveniências, administrando a sapiência dos que tem a consciência leviana e a gratidão por aptidões adquiridas no acúmulo das experiências provenientes de existências anteriores, sem serem pedantes ou redundantes, nos atos ou palavras proferidas aos ouvidos descuidados dos desavisados incautos, autos de fé no porvir, atos sutis, como plumas ao vento, de vaga lembrança, mas levados como fiança de que a aliança com o divino está presente e, só a passagem, mítica, dos seres, lhes diz que tudo vale, mesmo que cale pouco fundo no conturbado dia a dia, fia teia tênue entre o visível e o que não se sabe se existe, mas persiste, nalgum canto da memória, fiapos da retórica sussurrada, levada para casa, como jóia de inestimável valor, porque imperceptível, a ser guardada num pedacinho reservado somente para preciosidades, do peito dos humanos.


DIÁFANO





25.5.08

ENCONTRO


Ato III

Cravado dia ao meio, banhados, descontraídos, saem para cear, conduzindo, muito a vontade, a fome da crua verdade.

Na Liberdade, linda beldade, vestida de vistoso quimono sedoso e rasgados olhos orientais orienta-os a entrarem, dispensados os sapatos, reservados, separados por corrediços painéis de papel de arroz e madeira.

Abandonados, esquecidos ao largo, largados sobre almofadas, as pernas tramadas, cozidos no ato num fogareiro forte, comem-se sobremesa, exotisses, com pauzinhos, feito porcos, feito frangos, filés, pimentões, amendoins, molhando-se agridoces, bebendo-se saquê, sacanas, sagazes, pegando-se aos pedaços, alcançando-se as bocas coloridos legumes, raízes resvaladas, revelados saboreiam-se, comprazem-se lhes escapando nacos, deleitam-se na inaptidão tratada a tais talheres, regalados rompem em risadas, saciados jazem lassos.

Deus nos salve



São Jorge Guerreiro, ogunhé meu pai, Oxossi caçador, São Sebastião flexado!
Quem vai nos salvar?
Da trajetória da bala perdida, para que ela continue perdida;
Do ladrão, que sem opção, se profissionaliza nas vielas da favela comunidade;
Do banqueiro que viaja em jatos particulares para ejetar nos paraísos fiscais o dinheiro público da facilitação;
Do imposto compulsório sobre a riqueza de todos que não conseguimos alcançar;
Quem vai encontrar a criança de rua, perdida, a procura de um lar;
Quem vai encher a bolsa família da família desfeita;
Beber a soda cáustica no leite da merenda escolar;
Do derrame das águas do Rio São Francisco que vai correr na vala a céu aberto;
Da dengue do mosquito listrado;
Da gangue de soldados a soldo do tráfico, soltos soltando rojões, ainda vestidos com o uniforme listrado da prisão ou marca da identidade, a lá metralhas, sem mascarinhas, só no carão, no carrão (seriam dos serial lawyers contratados?, que tratados teriam feito?);
Quem os pagou para encontrar brechas na lei que premia com liberdade a conivência com o crime, a contravenção?
Deus nos salve de tamanhos disparates, justiça Xangô, Saravá Oxalá,
Amor incondicional de mãe, Iemanjá!

11.5.08

ENCONTRO

Ato II

Soado intercomunicador, repetido, repartindo, truncando o desenrolar encantado da cena.

Acenando que era provérbio proveniente do próprio, zunindo dentro da bolsa, próvido, replicou, alheiando presença.

- Não pensa que por que estou te escutando vou volitar. Esqueça que me pertenceu, se por acaso passar por mim na lua, finja que não me riu, não terei nenhum lazer em latir para você. Acabou, você perdeu, eu te estranhei. Atirei fora o número da tua fraca intenção e doei a venda que te manteve, cão-guia, atrelado a mim. Você agora é lêndea.

Prestidigitando o aparelho, prismando-o à parte, falou:

Desentenda o que ouviu. Decomponha só o vogar volante do meu coração corisco.

Arisco momentâneo, mas pego por olhos amorosos, exibe juventude, justa, sem velos, a mente sã, talhada, trabalhada a ferros, expondo escultural musculatura máscula, construída, bem distribuída, de protuberâncias e reentrâncias exatas, proporcionalidades perfeitas, gestos concretos, gentis, graves, viris, de suave graça, perfeito vôo de garça, volta a pousar para repousar esgarçado no sofá, assistindo juntos, jactantes, o espetaculoso raiar do sábado, vindo em cores extravasado.

VACAS Á SOLTA


O Rio explode em calor,

na batida do bumbo,

cadenciando o samba.

Bamba, bambeia quem chega estrangeiro,

mamulengando os corpos expostos,

postos a postos do posto 1 ao 11, tipo carne de sol, curtindo,

soletrando línguas ao gentio, que caça, suadão, no calçadão,

as sereias, selvagens, desnudas, abundando bundas,

esparramadas, encaloradas nas escaldantes areias de Copacabana.

Que bacana, gentil carioca,

Gandaia de gente da gema.

Extrapolado oceano de azuis,

Verdes montanhas exuberadas.

Tênue linha divide, o asfalto derretido,

automóveis rodando, velozes, reluzentes,

separando, segregando,

o morro da cidade, comprimido em verticalidade,

imprime identidade,

em tijolos empilhados, sem emboço, remendados,

arremedos de lar.

Vencendo a gravidade, a vista avista, explana, clama, mas não toca, não alcança.

Em troca, exposta, a vista dos bacanas enche os olhos a olhos nus.

Aos molhos, a comunidade desce para trabalhar,

amealhar dos condomínios de luxo,

das portarias de prédios,

serviços gerais,

para depois, poder delirar no Shopping,

passar o rodo geral,

fazer o arrastão,

ir pra galera.

A chapa esquenta, à proximidade vigiada, perigosa.

Enganosa convivência controlada por câmeras, helicópteros, blindados.

Vidas feitas reféns, presas das vielas tortuosas, íngremes ladeiras.

Imprensadas, presas, prensadas em pesos de maconha e cocaína,

Cargas passadas de mão em mão, de fuzil na mão,

Defendendo-se, fendendo, ofendendo,

Financiando a guerrilha, serrilha a grade,

Degrada, sangra, morre,

Escorre até ao asfalto.

Em cima do salto, as vacas, coloridas,

À camarilha, distraídas, passeando na orla,

Não mugem nem tugem.

8.5.08

ENCONTRO

Ato I


Àquela hora da madrugada, quando os vampiros vagam soltos, voejando desatinados e, é questão de instantes, antes que, o primeiro raio de sol, os torne pó, secados aos limites o sangue, vital às veias e, só um ser, pulsante de vibrante juventude e saudável energia, poderá aplacar, fome de criatura, residente a eras na escuridão do desamor, largado lá, ferido, por frio e insensível franco atirador, tornando-o resistente, refratário à aproximação, servindo-se dos outros ao propósito a que servem, se servissem, pagando em igual moeda o que o corpo alude, amiúde, assim feito lobo uiva, faminto, na madrugada gelada.

Varrendo ventos vazantes, ao varar a vau da avenida, viu, de pronto, no ponto, fanicando, falena figura, farfalhando ao assoprar as mãos, tentativa de aquecê-las, esquecida em si, resvalando de um pé ao outro, revelando um balé ralentado, tratando com a transfusão de dirimir a inversão térmica, traduzida aos intragáveis três graus centígrados.

Atento a qualquer nave, quase ave, quase na neve, aventados corredores congelantes, reino ruminante, razoável à rapina, àquela hora, sorriu, quando, estancado veículo, aberto vidro por dispositivo, seu tripulante, ativo, tramou, como intróito:

- Quer uma carruagem ou, quem sabe, um trago da minha beberagem?

Voragem visionária, sem trastejar, tratou de entrar no bólido ígneo, fumarando da travessia através da estratosfera terrestre, sem travar nada nem sequer esperar um segundo aceno.

Selada e lacrada a porta, partiu o aparato e, o interior, cálido, acolheu-os.

Estendendo a mão, quente, ao contato da nua, crua, quase pedra, num augúrio, inquiriu:

- Chamas aqueçam teu nome! O que danças na rua, lanças para a lua?

- Tudo está refeito agora, o que será, seremos, porque o frio insana e, aludindo ao legítimo, partindo de você, nada de mal serei. Será íntimo, não é?

- É a mais pura vaidade, a vocação é fazer bem, mas espero resultantes, estamos acordados? Sei que nada é desgraça quando se está na praça, diga o preço.

- Mereço saber que não preciso me desandar em descobrir qual a gravidade do efeito dispensado, adentrar em desatino um covil sem aludir ao destino. Realmente entrego minha viagem à sua vivaz virtude. A partir deste lamento, não me faça revés, não te acusarei de aborrecimentos, nem te farei clamar intento, prometo.

- Louvo seu alento, mas não são, deveras, promessas severas demais para quem acabou de aportar?

- Atente ao meu parecer, pois se assim não for, perderei seu caminho e nosso tempo, porque para mim é assim ou vaga. Veja, sou de uma só lavra, e já tendo entronado outra vez, sonho adentrar quem seja como eu e tragar o coração.

-Não prometo que esqueças o que bebeu, mas se estamos nos sabendo, como a serpente o ovo, quero compactuar com a idade. Olhe para mim, note as marcas do vento no meu gosto e, os sabores que a vida me cansou. Jurei que não mais me lavaria a loucura, me atirando ao sério, mas, a avenida é cheia de reviravoltas e na quina da retorta te topei. Então, deixe que eu lude a lida e tu, a ida alude.

-Lancei a linha no lago, feito criança e, se sei levar o brinquedo, o sério seria pescar desta beira, trocando, te dou a isca e você, feito peixe, engole, assim ficamos fisgados e, como num rio remansado, remaremos ao calor.

- Seja para o que for, pode contar carneirinhos, serei pastor incondicional.

- Leal compartirei, já que o legado está legitimado, podemos lavrar nossa missiva, lançando-a ao infinito.

- Sem mais isto ou daquilo, somente um prelúdio, um acerto de desvãos, cujas prerrogativas são mais rentes. Sem pressa, presa, preme que chegues perto, quero ser seu valor.

- Vamos fazer melhor, que seja lírico como já o sinto onírico.

- Convocação aceita, estamos quase varando.

Vazando velhos sinais, deixados para trás, quais nocivas novenas, avistam altíssima torre, plantada em descampado, ornado de espécies esparsas, raras e rarefeita iluminação, vacuada por vasto vazio, se abre à aproximação a goela do subterrâneo.

Sucedâneo, digitalizada senha, elevam-se, sem subterfúgios nem tangimentos fúteis. Calados, num enleio, resvalando no ensejo, sem mais vazas, que aquelas, as que seus corpos crentes urgem e, caminhos sinceros, incisam relevar.

Como numa bolha, solta no espaço, a vista, vagando no ar, abre-se inteira, sobre as luzes, apagando-se no horizonte, mistura de céu e mar.

- Sem outra intenção, senão quebrar o gelo ou puro apelo posso te oferecer uma soda à moda ou outra vertigem, que nos esqueça do frio das noites solteiras.

- Inteiras viagens, menos visagens, porque prefiro saber na saliva da tua língua a doçura das tuas lavas e o suor vertido sal no sexo que seremos, preenchendo os rios lavrados, para que sejam bordados por mim, tal rei de um reino urdido a lanço que, diferente dos carteados por fadas, lilázes para gente, será aparvoado por hóstias fantásticas e miraculosas, como todos deveriam, serenos.

- Ser preso da surpresa, sem haver pensado nisso, vindo teso, despencado desta ladeira, é a maneira que seguiremos, sem escolta, nem quebrarmos a verdade dita, atingindo ditosos os azuis dos dias bem aventurados a serem digredidos.

- Idos tempos tristes. Dispamos agora as vestes vestais até que estejamos nus dos corpóreos véus, diante do vexame de sermos verdade, essência do que somos.

- Que não hajam mais barreiras, sombras, manchas do antes ou d’après-midi que impeçam que sejamos ligeiros, leves, diretos seres imaginosos, com o todo comungado.

- Amar na luz deste novo amanhecer, sei que é o que queremos, por isso compactuo com tamanha intimidade e calma, que saibamos somente nós.

Vamos vazar, sinta a tez.

Abraçados, enlevados, sentindo-se além dos laços do outro, lançam para a vida, para o dia, por estarem acordados, ensejos de que o mundo todo desperte entre bocejos e beijos e com a mesma predisposição predita.

- Louvar gloriosa manhã raiada!

- Bendito o vento que vestimos antes de estarmos inconclusos para o encontro.

- Hosana dias que virão.

Continua...

19.4.08

MARGINAL

A retina capta a luz do teu olhar.

Te ver à mostra me encanta.

A covinha ao lado do sorriso, lindo,

Perfeitos lábios, iluminada alegria de viver.

A beleza da pele, lisinha,

O umbigo, redondinho,

Na barriga, durinha.

Que mirada de esguelha!

O que te dá na telha!?,

Quando vem se mostrar,

Cheio de atitude e tantas virtudes,

Para minha total beatitude!

Vai encarar!?

Mexe comigo,

Bole que não é mole,

Passa e repassa,

Me deixa sem graça.

Com teu assédio,

Espanta o tédio, de ser eu,

Que de tantos modos quero te ver que nem é de bom tom que fique te encarando, afinal, nem fomos apresentados formalmente, nem pertencemos ao mesmo círculo de amizades e, nosso encontro, fortuito, ao acaso, escusados destinos ou desatino do tino, se há de se repetir, senão, será só hoje, aqui e agora, ao piscar terei deixado passar, sem guardar, arsenal, depósito, memória, quem sabe inglória história, talvez nunca mais nos vejamos com os belos olhos que nos aproximou e nem tecerei interpretações das impressões que de você me permito:

Mito tatuado, estonteante, escandaloso, desmesurado de incertos absurdos contornos, tangentes imaginadas de mundos marginais, facções, falanges, sílabas, sinais, tribais, tramas margeando a pele, Apolo alegórico de fábula figurada com animais e seres inanimados, dragões, leões, sereias, serpentes, tigres, touros, águias e anjos gravitados gravados às agulhadas no flanco lateral direito, peito estampado com o que deveria ser capaz de enfrentar, tubarões, tempestades, furacões e todas as ilusões de um parque de diversões, Hermes alado a se mover por céus para poder amar, Aquiles de calcanhares cravados na terra, sem ousar transpor a barreira, tendo vertigens a beira, sem ir às origens ou a Órion, fundeado à orla, ... mesmo assim,

Moleque abusado,

De musculatura túrgida e coxas torneadas,

Tratadas a ferros,

Anabolisado por meu olhar,

Cria uma só imagem, visagem.

Na viagem voraz que faço,

Como um pouco de cada,

Tão belos, todos, cada qual a seu modo.

E, eles vêem, são muitos, Serafins, delfins míticos em constelação estelar,

Orbitando voejam, deixam que eu veja, se mostram, se expõem.

Jubilo opiado!

Bomba o bumbo da bateria, bombeia o sangue, bambeiam as pernas,

Aflui energia infinita, anima o espírito.

Colírico deliro onírico!

Mareado, meneio marimbondos!

Mirando a maneira beleza,

Viva, escultórica, jovem, sem retórica, masculina,

Mostrada quase desnuda, despudorada, dourada,

Deuses,

De sunga, desfilando a beira mar,

Domingo,

Dezembro, 30, 2007

A TRIBO

Os tambores tribais,

Tocados no tecno,

Imitando a batida do coração,

Chamando, invocando,

Conclamando ao calor da taba,

Ao som dos tantãs,

Troando,

Fantasiando festas dionisíacas,

Convidam envidados:

Vem pra mata, vem,

Vem pro verde vem.

Com um pé lá, outro cá não dá pra ficar.

Já que está no limiar, no portal, a beira do abismo,

Tem que entrar, dançar, celebrar.

Em campo aberto, a descoberto, à mostra,

Exposto, posto por inteiro, íntegro, no ato.

Acabou o consumismo,

O ismo, pífio, pifou.

Vai pro ser, vai.

Vai ser, vai.

Não tem volta.

O êxtase lisérgico psicodélico,

Agora plugado,

No glitter néon dançou,

Fez crack no crepon da festa rave,

Corroído na química ecstasy.

Era pra ter sido assim, bom, já foi.

Agora, ser é o que é.

Não há mais nada, tudo já foi dito, foi feito.

Conclui-se, ser índio, pelado, pintado,

È muito mais que tecno, hard, pink ou punk,

New wrong bad trips.

Fizemos o possível,

A longevidade,

A reconstrução,

A perfeição.

A máquina do tempo,

Viajar às estrelas,

Nos levou à beira da nova era,

A outra dimensão.

Era do ser.

Sejamos.

Somos.

Já É!

DESEJO

Oferecido,

como licor

ao sacrifício.

Denso, soberbo,

soberano.

Sangue e carne,

feito hóstia,

grudada no céu,

sem firmamento,

da boca travada

com mentiras,

inconfessas.

Fome de bicho,

Sanha de fera.

Quimera quintuplicada

Na nossa era.

Sintaxe disléxica,

Disjuntando sentenças,

copulativas,

ativas,

imperativas,

urgentes.

Dementes danações,

devoradoras de transas.

Tragédias anunciadas.

Trilhos, sem encontro no infinito.

Tramas, valores desnecessários.

Tramóias, tecendo o desencontro.

Insaciável insensatez,

Ao deu.

Detonando disparidades estrondosas,

Ao léu,

Me dizem que:

Mesmo sabendo disto,

E mais, porque tem,

Não só quero,

Muito, muito mesmo,

Desejo.

12.4.08

A quem me lê



Gostaria de saber de quem me lê,

para não me sentir como um cego,

pilotando a nau dos afogados,

tripulada por fantasmas,

perdida no mar de procelas,

procurando um porto seguro,

contando com farol extinto,

tendo nas mãos bússola sem ponteiro,

procurando orientação

em constelação de estrelas cadentes,

Se, para quem escrevo:

pareço estar compondo

odes, breviários,

cantatas de amor ao Universo,

versos encantados,

que venham a acordar princesas adormecidas

nas torres dos castelos, ou

oriente dos sonhos,

sustento dos braços dos homens,

nas fecundas plantações dos trigos,

alimento do corpo.

Se, como encantações, afastam perigos,

reais ou imaginários,

da maldade do dragão.

Se, segura a mão de crianças perdidas e,

as conduz a um lar feliz.

Se, constrói um refúgio,

seguro no tempo e espaço,

ilha de bem aventurança,

farta de bonança e,

infinita paz.

Espírito, substância incorpórea e consciente de si mesmo,

Alma, entidade sobrenatural, como anjos e demônios,

dêem-me inspiração,

para que minha mão desatenta,

produza alquimia,

de elixires de longa vida e,

vivifique nas linhas que componho,

letra a letra,

todos os nomes de Deus.



V. Excia. Velhice


Viver,

Ver envelhecer!

Vanglória!

Vã glória?

Vaidade vacilante,

Vaga valia,

Valoroso valor.

Volúpia volátil,

Varonil virilidade vazante,

Vigência vencida.

Voracidade vérmica,

Vinho vinagrado.

Verve vigiada,

Vadio vai-vem valsado.

Voz velada.

Voto vetado.

Venerável vivência,

Veterano vetusto,

Vulgo vulnerável.

Vantajosa vagareza.

Vovô.

6.3.08

CALEIDOSCÓPIOS

Penduradas na ponta da corda,
Anzoladas,
Qual iscas, enforcados, ou ainda, almas,
Mal lavadas,
Mal amadas,
Amarguradas,
Assombradas,
Como imaginação pobre,
Dévia,
Ínvia,
Devírica.
Amasiadas,
Emparceiradas com diafaneidades,
Inconsistentes,
Inconstantes,
Instáveis.
Por tudo isto,
Instigantes deidades,
Dádivas,
Dívidas cármicas,
Kamicases camotes,
Caleidoscópio de emoções.
Razões conflitantes:
Cadinho para fundir metais,
Pia de expiar ais,
Caldeirinha para água benta,
Valores dilemantes.
A absolvição nem contenta.
A pena, caló caluniosa,
Presságios agourentos,
Injuriosa pronúncia,
Prenúncio de promessas,
Homessa verdades.
Vanidades,
Vilanias,
Via de mão única,
Túnica vestida.
Vida, vadia vida.

A QUEM DE MIM SE DESPRENDEU



A quem de mim se desprendeu,
Nas curvas do imponderável,
Se por devaneio perguntar,
Em que pergaminhos me descaminho,
Digo que:
Perício, peristásico continuo périplo.
Cada vez mais pisando em falso, oricalcado na bombochata orgiática das esferas, orbitando gravidades grávidas, me atirando de penhascos nos vazios musculosos braços de nuvens incorpóreas, incorporando personagens falastrões, fanfarronando feitos inverossímeis, semelhando espelhos convexos convirjo versos versicoloridos.
Orgulhoso mentecapto, metamorfoseado fascinante, faísco farrapos enluarados no lodo, ladeado por debruns de deboche, pregando-os feito broches no peito inflado de flâmulas rutilantes do orgulho bobo do sabeísmo.
Rufião, reviro a rima triunfante no deserto escaldado do trívio triscado, deflorando diacomáticas diletas por trinta talentos no balcão antroposófico da antítese pirética da minha alma mal levada em conta, descontando a bancarrota da falência múltipla dos sentidos íntimos e privados expostos na prosa, tolamente desavergonhada da própria nudez.


26.2.08

É do Balacobaco a Hylária disputa para a branca Casa Branca, porque ela não é a Cabana do Pai Tomás.

Raios e Trovões



Continuem me contemplando com suas visitas. Tenho muitos textos novos prontos para deliciarem seus sentidos ávidos de palavras. Aguardem mais um pouco, pois estou em resguardo, incubando um livro, vários contos e poemas, mas sem acesso direto a internet, raios que o partam um raio partiu o sistema cortando o embalo, mas logo volto. Um abraço aos amigos e novos conhecidos. Deixem sempre um recado de que aqui estiveram para que eu saiba também de vocês. Abraços!