13.11.12

O TIGRE



Andando pela calçada, na alçada da presa, semelha tigre na jaula do zoológico, ilógica majestade de animal selvagem, voragem sinuosa da beleza de formas, enformado em másculos músculos ondeando, adejando a imponência na impotência do cativeiro, viveiro cercado, cerceado animal a olhar mirando a perdida floresta, resta a submissão de ser subserviente a uma causa que lhe causa pouco gosto pôr não ser leve ou levar livre a procura ao par, parte ferido de tudo que está ao seu alcance, lance de sabedor da dor do que tem que ser conquistado, restado presa que será sempre posta a prova, parte pressa de quem assa e sabe da fome, parte posta de carne exposta, farta oferta, arfa a angústia do que ainda não sabe, sobram sombras do que é e assim anda com a camiseta enfiada no cós da calça como um cauda, dardejando de um poste ao outro trilha seu território de caça, alça o peitoral quando o carro passa, rechaça raia miúda, muda a expressão quando sente o valor do adversário, versado no que é bom, conhece marcas, casual tem seus mitos, muitos italianos, Ferrari, Versacce, Armanni, Michelangelo, Mastroianni, Antonioni e suas magistrais criações povoam sua imaginação suburbana, mas, bacana, está estudando Desenho Industrial, não faz mal o ir e vir, virar-se paga a despesa da calça griffada Diesel, self made man malha ferrado na academia, economia é na calculadora, ora, pois sabe que um dia o destino vai lhe abrir as portas aportando no seu mundo o mundo que sonha, sabedor da dor de crescer e ser gente gasta a sola dos tênis que o tamanho do pênis possibilita, habilitado que está com a ferramenta apropriada ao metiêr, michê, meter, macho se acha, chamando a atenção pela atitude, a concretude dos gestos que dizem que tem gosto refinado, afinado com seu tempo, ocupa sua juventude, mas não se ilude pois sabe que o príncipe não virá numa carruagem resgatá-lo das ruas, as rusgas rasga com o coração carente de afeto tecendo versos que digita na tela do celular num twitter sem seguidores, livrando-o de mágoas, assim fabrica o tempo e o valor da noite pelos dígitos teclados no caixa eletrônico, compondo página a página o bilhete da passagem na sua viagem de primeira classe, passe para uma vida com mais glamour, um amor talvez comprado, que outra porta?, também, que importa, e tudo não tem um preço?, a pressa lhe assalta as vezes vinda da ânsia de alcançar os objetivos, vocifera impropérios em voz baixa para não ofender aos deuses nem os clientes, estes, os tem às mãos cheias, sempre recheados de desejos inconfessáveis que querem pôr em prática com um profissional, normal pois alguns são realizáveis, cabíveis, outros absurdos, desfaz-se deles fazendo ouvidos de surdo, ao surtado preenche fantasiando, dando sempre a altura do momento, toca no ponto, troca sem mentir nem iludir, direciona a ação, cão sem dono sabe bajular, beijar, bombar feito bamba, atende e entende, domina, anima, mima, mama, declama versos, sustenta a prosa, safado está fadado a se dar bem, faz fado da má sorte que a vida lhe apresenta, representa o desafio quando extrai a essência do animal masculino, no mínimo as qualidades de cada homem com que se defronta, afronta mas não conta suas aventuras, juras também não faz, faz de conta que se interessa mesmo que o interesse seja a sério, ri do mercado da carne a disposição, a posição está firmada, dará conta do recado enquanto ainda não vê o horizonte claro, claro está que faz o possível para ser abraçado pôr alguém que não quer somente seu sexo, mas seu amor, quer uma família em paz com o mundo, modo de estar ajustado a realidade, deseja sempre reconstruir-se para que algo mágico dele se mostre, mesmo que o significado nem ele saiba intuir, por isso flui seu vigoroso ir e vir.