12.11.09

DEDOS



Dados
Nossos dedos
Abandonados os teclados
Plenos de predicados
Todos delicados
Dedicados
Perdidos de amor
Perdoados os medos
Desmedidos
Metidos
Sobrando sonhos
Assinalando senhas sobre nossas peles
Desenhando rotas ritos
Notas sinfônicas
Atômicas
Atônitas
Dando a tônica
Harmônica
Atordoando nossos sentidos
Atritando nossos atributos
Dois brutos
Britando as certezas
Brincando com as levezas
Levando ao ar arfado
Asas do assédio
Assegurando rédeas
Nos enredam
Em redondilhas
Redourando
Redundando
Dando um ao outro
O que nós ainda não sabíamos.

9.11.09

COPA







Em frente aos prédios Art Déco decadentes
As amendoeiras de folhas vermelhas incendeiam o inverno
Onde os velhos jogam nas sombras perdidas damas
Nas calçadas de ajuntadas pedras portuguesas
Desenhadas pelo mestre Burle Marx
Os bares de chopes e petiscos fazem a patuscada
Os fogos de artifício do reveillon
Revelam artes do ofício
Chamariz
Ardis pra nos jogar na areia
Ardentes peles dilatadas veias vibrando ao sol escaldante
Marola espumante que abunda bundas e não dá refresco
Fresca brisa pisa o calçadão na night
O neon pisca (Light, Light) apelando
Pras seminuas mulheres da Help
Cobras criadas a Leite de cobra
Elas não dão nenhum help
Cobram caro
Correm calçada
Na alçada dos incautos
Se de salto puta
Sem salto ladra
Ambas roubam
A alma a calma
Ladram predicados
Clamam impropérios
Chamam amor
À carteira recheada
Máquinas digitais
As tais
Fazem sexo
Instantâneos
Dígitos de prazer
Dádivas ao freguês
O cliente
Estrangeiro otário
Cai no conto do vigário
Pega o traveco
Que agasalha o croquete
Paga um boquete
Em real euros dólares
Dolores Samanthas e Pricilas
Tudo nelas cintila
Enquanto a santa cora
A Nossa Senhora
Copacabana engana
Posa de bacana
Bem sacana
Saca só cara
Na real
É puro virtual!

2.11.09

ACRÓPOLE



Em permanente construção
Como a Acrópole em Atenas
Juntar os pedaços
Vai levar uma eternidade
Fragmentos frágeis
Linhas que se tangem
Se acham
Se encaixam
Sobre o que já é ruína
Rumina
Conjura
Rejunta
Jura que termina a tempo
Trampa
Junta a tropa
Atropela
Pela tabelas
Atola na lama
A perna é curta para tanto lance
O pouco alcance
É preciso muitas vidas
Para fazer da vida uma obra.


24.10.09

INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL



Dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes:

1. Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo

2. São levadas por valores. São idealistas

3. Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade

4. São holísticas

5. Celebram a diversidade

6. Têm independência

7. Perguntam sempre "por quê?"

8. Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo

9. Têm espontaneidade

10.Têm compaixão


11.10.09

A FORÇA REDENTORA



O canto dos galos anunciam
As madrugadas das minhas vigílias
Para o dia do juízo e da condenação
A morte-renascimento
A liberdade e o destino
Inapelável
A plenitude da vida e a proximidade da morte
Posso escolher
Posso recusar
O total altruísmo
O total egoísmo
A força e a fraqueza
A alegria e a angústia
O tormento e o êxtase
O verdadeiramente importante
O supérfluo
O essencial
O tolo
E deixar a emoção tomar conta de todo meu corpo
O estômago
Os músculos
A pele
Até a última célula
Como uma força redentora que tudo transfigura
Que não pode ser acabada
Não pode ser modificada
Não pode ser transferida
O maravilhoso despertar
O próximo e ao mesmo tempo distante
O instante de te ver chegar
Como a Terra Prometida
A entrada triunfal
Na minha vida
De um amor

8.10.09

A VIA LÁCTEA AO FUNDO



Agora sei que não virás porque não mais te interessa o nosso refúgio no meio da tarde que pouco te importam os suspiros embevecidos de tua não presença a crença no teu amor desvaneceu desceu a noite negra rasgou o ar o açoite da dúvida a angústia nublou-me os olhos e os folhos caducos caindo das árvores varridos pelos ventos outonais viraram páginas inúteis na paisagem desolada assolada pela desatenção da ausência de teu vulto oculto no anoitecer tecido de ânsia esfarrapada em rosas despetaladas por a muito esquecidas nos pátios baldios bordados em cristais multifacetados cortantes como facão de facção armada e em pé de guerra como a terra jogada simbolicamente sobre o caixão a pá de cal que encerra as cerimonias sem mais adendos ou remendos aos restos de uma relação já tão pisoteada quanto um capacho onde nem mais cachorro vadio vai dormir suas pulgas às madrugadas vazias de afago nem um trago tragaria a dor ou traria nova cor ao rosto desfeito no leito banido ao deserto assolado pôr sua sede tórrida trazendo no sibilante siroco ecos da falta do teu corpo amado esparramado pôr inteiro nos azuis estrelados tecidos lençóis de linho e lanhos não riscando minhas carnes de tuas unhas loucas em advertências claras abruptas dos rompantes sem atenuantes raspando aplainando o caminho preparando tua vinda tua ida tua chegada ao gozo gargalhando depois em razão confessa da brutalidade do ato que lhe queimava as faces fremindo flâmulas em convulsões de agonia e prazer arrancando de mim arranjos novos tal navio desgovernado sobre ondas de maremoto em remotos mares orientais arrastado pelos costados onde embarcado marinheiro desorientado sou assaltado pôr frêmitos eruptivos ativo vagando vagas vazando vertendo em transe troando tremulo tombando sobre soçobrando abrandando bradando meu amor margeando amargas lembranças na quase ânsia de chorar chamando teu nome nos escombros do meu drama de bêbado de tragédia e cai o pano de um ato findo atirada do revólver a bala imaginária que mata o marginal segredo que mantivemos mergulhados como apaixonados seres sargaços largados às correntezas inchados de uma gravidez de ternura alimentando as imagens de um sonho em que seríamos a aventura e nada além de nós que críamos o mundo e espantados com nossa beleza pensávamos estar nos vendo num espelho tendo a via-láctea por pano de fundo.

2.10.09

CRIADOR



Como não sou Deus
Mas querendo revelar-me criador
Escrevo para bastar a mim mesmo
Escrevo para meu próprio prazer
Escrevo os sonhos da minha particularidade
Como exigências de comunicação
Para afirmar minha solidão
Para que os outros me adotem
Para convence-los de minha existência
Através de minhas virtudes e meus defeitos
Me exponho a procura de leitores

1.10.09

SONHOS EM PALAVAS



Com letras enfiadas nos bolsos
Mergulho fundo na fantasia
Nascida do próprio sonho.
Sonhos de palavras.
Abro o armário de fetiches
Onde as palavras ainda úmidas
Brilham
Com a excitação que desprendem
E me levam ao paraíso.
Prisioneiro da excitação
Rejeito a realidade
A lógica.
Vou do estado do sonho
Ao sonho despertar
Deixando marcas grafadas.
Dos sonhos mais monstruosos
Evoco e crio a minha platéia.
Sonho que escrevo
Escrevo que sonho
E o escrever me acorda.

29.9.09

ORAÇÃO



Sou filho de Deus e do Universo
Que me concedem:
SAÚDE
ALEGRIA
SUCESSO
PROSPERIDADE
RIQUEZA
AMOR
Trazendo para mim
Trabalhos proveitosos e bem remunerados
Fazendo com que o dinheiro circule abundantemente em minha vida
Tudo sempre em excesso Divino!
Que assim seja!
Amém.

19.9.09

FAGÓCITO



A procura da palavra exata
O sentimento que cabe
De que nada nunca acabe
Que tudo arda
E seja arte
Antevejo você vindo
Vislumbro seu mundo
Me assombro
Saio à luz
Levo até você o que sou
Ingênuo Sábio Náufrago
Carente de afagos esfrego falanges
Fagócito te sorvo absorto como sorvete seiva suco
Me estrago integro e engrolo lânguido
Guiado pôr teu gesto sou grato pôr te ter
Te fito transmito emito
Imanto mitos
Mato o tédio tremo
Tomo-o todo meu
Dou forma firmo flamo
Flanando agrego conteúdo
Mesmo falando grego
Gaguejo alegrias

9.9.09

SEGREDOS SOFISTICADOS



Sem essa de palavras duras.
Fico com bravuras
De doçuras,
Canduras,
Ternuras,
Levezas
e Purezas
Farfalhantes.
Sussurros
De segredos sofisticados.
Alvura de algodão.
Mão na mão morna.
Calma certeza de alma
Limpa inteira.
Eterna água escorregando montanha abaixo,
Estrelas fixas no firmamento,
Verde floresta povoada da bicharada,
Gente encantada,
Crianças enluaradas,
De pézinhos gorduchos,
Fofuchos.
Cochicho
na concha Mar
na orelha Amor

Lã ovelha... balindo... balindo.
Brilhinho
Bombom.
LUZIR LÍNGUA MÃE
Margem de rio limpo,
Saudável alegria líqüida,
Mergulho profundo.
Mundo vasto mundo!
Há! Como gosto de ti!
Surpresas
De estar vivo,
Vinde a mim.

2.9.09

A PALAVRA



Preenchendo a boca
Com vocábulos
De sumarento conteúdo,
Salivando,
Separo o joio do trigo.
Desfazendo travos
Revogo atos
Injuriosos,
Infames.
A força da palavra,
Bendita,
Livra,
Salva.
Maldita,
Condena,
Degreda.
Dada,
Transpõe barreiras,
Cria mundos,
Vai à Roma,
Diz amor.
Mói, Rói, Dói.
Confunde Infunde
Aplaina Desnivela
Sela Mela
Derrete Endurece.
Carece de atenção.
Expatriada de patriamada multiracial,
Mix pantagruélico,
Cruelmente,
Empobreceu,
Ficou flácida.
A flor do Lácio,
Fina,
Finou,
Lassiou
Lascíva.
Degringolou degradada.
Num engradado de breja
Cruza pracas expricativas.
Atropelando as gentes,
Gentios sem brusa,
Pedalando bicicretas.
Incautos.
Incultos.
Não contam
Com o poder mágico
De seu divino conteúdo.

29.8.09

LITURGIA




Quero ser abençoado
Com a geografia sacra dos enamorados
Construir um calendário litúrgico
Pleno de momentos de glória
Para entrever a essência última
Infinitamente precária
Improvável e espantosa
Do absoluto
A força que transcende
O espanto maravilhado
A consciência da total fragilidade do ser
A superação do abismo
A infinita complexibilidade
Os infinitos possíveis
A experiência profunda
Primordial
Fundir-me com a totalidade
Com o cosmo
Com a natureza

25.8.09

VICE E VERSA




A incerteza
Das palavras ditas ao ouvido
Das linhas das mãos entrelaçadas
Traçados indicativos de duas direções
Entrelinhas de desvãos
Brechas flechas de vice versa
De sim e não
O alto abaixa
A ida volta
Se chega sai também
Nada indica onde leva
O certo amanhã não mais convém
O doce amarga
O aperto alarga
O perto partido perde-se
No papel pardo do embrulho
( Os quereres
Os teres
Os haveres)
No arrulho com endereço errado.

22.8.09

RASGANDO ROSAS




Em êxtase

Dois sendo um

Um sendo o outro o ortuo o obnes mU

Acreditando no amor

Rompendo instâncias limites distâncias

Dando e recebendo plenos arranjos

Orgia odorada em rosas rasgando a noite

21.8.09

PRESENTE



Você é tão presente!
Porque sente?
Porque te admiro!
Te miro,
Mesmo distante,
Pôr um só instante.
Acho que depois....
Bom, seguirei depois!

19.8.09

DESENCONTRO



E o futuro não chegou
Não veio afinal
Aquele algo mais
Que imaginava a uma hora atrás
O avanço
O crescimento
O movimento
O inesperado
A revelação
Que aquece o outro
O que enriquece
A experiência vital
Tudo desaparece
Como coisa morta
Não haverá uma próxima vez
Um encontro
O encanto da alma nua
A surpresa
A intimidade
A soma
Some na poeira do tempo

12.8.09

Nova Rota



Você foi ao ar
Quando eu dizia te amar
Amargando a derrota
Peguei minha rota
Rodei céus e terras
Errei outros braços
Cassei cão perdido
Carcomido de tristezas
Bebi taças de vazio
Verti rios de nulidades
Urdi ardis
Ardi cidades
Descri das descritas certezas
Na incerteza deixei pra lá
Além estou isento
Sinto e nem sento
Muito finjo
Tinto cores que nem há em flores
Para que se lá fores
Se me vires
Saiba que sei
Que a sina de cada um
Caduca educadamente
Sente e mente
Não tá nem aí pra o que o outro trás
Atrás do novo, pass by, drive through,
Troca de par sem participar
Arremessa ao ar
Arremeda o amar
Avessa o sentimento
Atravessa sem ver o momento
Ladeia para o outro lado
Luda sem dar a face ao beijo
Certo de que está sendo esperto
Não entrega o coração.

9.8.09

AINDA DÓI



Pôr que é que dói ainda?
Quanto tempo mais?
Ficou grudado, aderido!
Ferido coração.
De nada adianta dizer não,
Esgotar a lembrança.
A dor invade, avança,
Avassala.
Faz do peito a sala,
Onde dança triste,
Trazendo em riste,
A flecha
Que cupido, ingênuo,
Lançou!

7.8.09

O GATO DE ALICE



De dentro da peLUgem CAStanha
SorRI NO GATO
O mesmo sorriso do gato de Alice
Enigmático
Pragmático
Argênteo
Enregelante
Desconcertante
No instante em que me visse
Desfazendo no ar
O ardor que me atraiu
Traindo a trama tecida
Trucidando o triunfo
Do presumido amor.

29.7.09

TE ENCONTREI




Descrente,
Ciente do tempo,
Atento mas distante,
Te encontrei.
No instante que te vi, soube.
Coube no que já nem esperava.
Procurava por mim.
Afim
Afinado
Pronto para ser tocado
Amado.
Bonito como granito,
Leve como pluma voando breve ao vento da primavera.
À vera.
Eras de dons,
Todos bons.
Éons de carinhos.
Indicativos caminhos
Levam ao ninho.

26.7.09

BONITO



“What can I say to you ‘bonito’?
What magic words would capture you?”
Uma vez que meu olhar já não tem a força da bala disparada de um colt 45
para te fazer cair fulminado pelo meu sex appeal
Por mais que apele esfole a pele arme arapucas funda a cuca
o corpo trai e não mais atrai como um imã
Irmã do tempo atribuo à lonjevidade pertencer à tribo
Dos que já trilharam lendas
Braçaram largos lagos
Cruzaram linhas de trem
Ter transitando por mundos inacreditáveis
Faz tremer quem arrecém está começando a engatinhar
Gatinho e seu novelo de lã
You are one beautiful boy
Bonito bólido sólido solevando resplandescente na luz da manhã
Mãnhas tramas tralhas ao vento voando em vão
Não lamento a vazada juventude
Virtual virtude do atual viver
Like a soft visible mist
Insiste em mentir quem diz que não importa
Que a porta está aberta prá quem quer amar
Então, onde andará o meu amor?
Wherever you are, came! Vem!
“Fly away with me ‘bonito’!
If you want’s let me be your man!
Don’t be afraid to fall in love with me”.
Vem e me traz tua alegria!
Joy boy!
Are you read?
Came now!
Vem bonito!
Vem!

22.7.09





O CAUSO DAS CONTAS



As contas que se acumulam
Não levam em conta
O quanto me dano,
Nem o dano que causam a poesia.
O cúmulo da causa é a pausa.
Preso num enredo sem ponta,
Não aponto uma sílaba,
Um vocábulo,
Quanto mais uma fábula.
Confabulo com os botões,
Entretido em tirar a prova dos nove,
Nem novena,
Tresena,
Ou uma megasena,
Dariam conta do estrago.
Por falta do afago,
Entrego meu humor ao desamor,
Acho tudo um horror,
Erro os erres da língua
O verso fica à mingua
Destilo mágoa

13.7.09

PERFEITO



Seu jeito se encaixa
Perfeito
Nos meus defeitos
Apraz ao abraço junto ao peito
Seu fisic de role
Bole mole mole
Com meu fole
Me inspiro
Transpiro
Piro
Parado na sua
Nua beleza
Crua
Cruel agudeza
Tua grandeza
Alça minh’alma
Transpassa a calma
Reclama chama
Chama pra cama
Exclama enleio
Permeia permissivo
Remissivo ao céu
Redime
Exime exame
Chameguento chameja
Envida vigoroso embate
Vidente torna evidente arte
Ente divino dá
Resgata
Ata
Rasga o ato
Atordoante ator
Torna
Adorna
Doa
Atrela
Estrela!

4.7.09

LABIRINTOS



Pelos descaminhos de Dédalo
Desandei.
Debalde,
Decadente,
Deambulei
Diluto,
Lutando contra a melancolia.



Na beira da estrada,
Sem querer encontrar nada,
Uma vermelha metade de melancia,
Como peneira de escória,
Me refrescou a memória.
Lembrei da alegria.

20.6.09

VASTIDÃO



Tudo é ilusório
O prazer é provisório
É irrisório
Diante da vastidão do nada
O absoluto tudo
O bruto vazio que somos
Senhores deuses de nós mesmos


Meritórios de louvores
Amores
Dores
Dádivas milagrosas
Perigosas armadilhas
Ilhas cercadas pôr todos
Como faróis luzindo no breu

ABRACE



Abraça-me
Faça-me descer do pedestal
Dispa meu ser vestal
Desejo ser o tal
Tolamente caça-me como bicho no cio
Cause-me arrepios
Irrompa-me com risos
Risca-me em rompantes
Em arroubos
Rouba-me a alma
Arma a levedura
Possua-me teu lígio
Clame pôr mim
Me integre
Me entrego
Trago transe
Transgrido
Transfugo
Afago
Acendo o facho
Fecho o laço
Lanho
Lanço línguas de labaredas
Léguas de veredas datiloscópicas
Dativo em divícias divinas
Derivo
Depuro
Apuro
Apresso
Prezo pleno gozo!

2.6.09

CONTRACANTO


Em contracanto
Contrapondo as previsões
Fui atirado à contravento
Precipitado de arremesso
Ao avesso do sentimento
Sem precedentes
Sem promessas
Sem preces
Sem prosa
Precisado de ti pra contracenar
Sem contramarca
À contraluz
Aponto ao léu
Ao breu
À brisa
Sem bis
Bastou aparecer um contrabaixo
Um tom mais baixo
Para me pores abaixo
De contrabando
Esbandalhado
Sem contento
Sem contexto
Sem voz para cantar
Nem um texto para recitar
Nem um canto na coxia onde encostar
Ninguém na platéia pra quem contar
Não fui contemplado
Nem houve contenda
Não ouvi reprimenda
Nem emenda
Foi de chofre
Um choque
O que era uma contradança
Um contraponto
Perdeu o ponto de apoio
O palco sem contra-regra
Virou esbrega
Sem réplica
Sem tréplica
Nem controvérsia
O que era uma récita
Sem um verso sequer
Sacou lágrimas
Secou o riso
Sem um lenço
Um aceno
Uma cena acesa
Sem coro
Incolor
Virou cinzas
Um velório
Oratório
Rosário
Corolário
De desfiadas contas
De mágoas contundentes
Que como copófone dissonante
Soam em contratempo
No meu contrafeito conubente coração.

30.5.09

ONDE ESTÃO OS LEITORES?


Onde estão os devoradores de letras,
Os adoradores das palavras escritas,
Os vorazes engolidores das frases,
encharcadas do perfume raro que só os grandes épicos amores têm,
empapadas do suco espremido do suor das remadas rumo ao remido rosa céu dos românticos, os sonhadores,
traduzidas magistralmente em tipos pretos agrupados, preenchendo páginas brancas,
em parágrafos, capítulos, versos, diálogos, epílogos, prólogos, epígrafes, citações,
descrições detalhadas dos sofridos amores alheios, aventuras, épicos, sagas,
ornamentados de preciosas iluminuras, primorosas ilustrações,
encadernados nos compêndios, alfarrabios, brochuras, pergaminhos,
já não servem de caminho,
foram condenados às prateleiras, as estantes das livrarias, bibliotecas, aos sebos,
ao degredo, ao segredo, segregados a uns poucos afortunados.
No mais, passam ao largo, de permeio, permeáveis ao turbilhão das emoções diárias,
vão na direção contrária a tudo que se quer, felicidade, felicidade, felicidade...facilidade.
As cores que as palavras impressas tintam já não mais atingem os empedernidos corações,
As desditas malditas não lhes caem bem na fita,
Fingem que não sentem a dor que embora sintam.
O instantâneo, o momentâneo, o virtual valem mais que mil sopas de letrinhas!
O drama do garoto que faz a namorada e a amiga reféns, abriga todo o carrossel da fantasia anti-ética, a anti-estética trama, com direito a final trágico, recontada boca a boca como lenda urbana bacana, atrai e distrai, disfarça a farsa diária, dá combustível ao sofrível viver gris.
Estampada em foto a cores, o rubro sangue na face da menina é real!
Então, para que a ficção, os poetas, os escritores?
Muito menos os livros, que dirá dos leitores!

29.5.09

Tico


Só um tiquinho
Do tic-tac do tempo
Daria pra ver
Tudo que
O tico-tico vê
Quando voa.
Vai com ele meu pensamento
Um momento voa.
Veja lá tico-tico
Temos tempo
De reparar nas sementes
Pra uma nova plantação
Estamos no estio
Daqui a pouco vem a primavera
Elas brotarão
Novamente
Nova semente
Uma nova mente
Planando rasando
Vamos voando
Estamos dentro
Estamos de acordo
Acordados
Dados
Hóspedes do planeta
Plantemos nele
Novos elementos
Como momentos bons
Um tico de prosa
Com o tico-tico
E se sai a voar

27.5.09

FLÜT






Meu coração em rio
não deságua
nada nada
tudo bóia
suspenso
supresso
a deriva
vira vau
vaza tinto rubro sangue
ruge disrítmico
range dentes
rasga a carne
arde ainda que tarde
Covarde dádiva
Despe mais um dia
Diamantada dama
Vem a noite
Vadio Vago!


Te queria aqui
Quisera ainda mais ter-te meu amado para que domado possa mimá-lo lambê-lo como cria creia bebe-lo belo levá-lo a lonjuras as mais puras juras eia como queria rir contigo contíguo vertigo vê-lo verter sem tir-te nem guar-te aguardar-te aguar-te te agradar dar-te-me todo a ti
Ser teu servo
Servir-te blues na bandeja um dejá vú de delícias as mais caras caraminholas carinhosas casa odorada de rosas rosa chá chamá-lo amor orgulhoso oferecer-te salivados beijos jocosos sopros cordas cordato interlúdio do vento na orelha tema para violar largo largado perpétuo movimento motivação humorosa variação para flauta flute de espumante flutuação ação carregada de significado magnífico fico extasiado a imaginar-te imarginado flamulando em lençóis estendidos em sóis dois caracóis em espirais aspirando ares de ais concertantes instantes bons oboés oba é reprise do tema para dupla de baixos sem baixar a guarda dar tudo nada guardar nadar azuis silênciosos......