2.6.09

CONTRACANTO


Em contracanto
Contrapondo as previsões
Fui atirado à contravento
Precipitado de arremesso
Ao avesso do sentimento
Sem precedentes
Sem promessas
Sem preces
Sem prosa
Precisado de ti pra contracenar
Sem contramarca
À contraluz
Aponto ao léu
Ao breu
À brisa
Sem bis
Bastou aparecer um contrabaixo
Um tom mais baixo
Para me pores abaixo
De contrabando
Esbandalhado
Sem contento
Sem contexto
Sem voz para cantar
Nem um texto para recitar
Nem um canto na coxia onde encostar
Ninguém na platéia pra quem contar
Não fui contemplado
Nem houve contenda
Não ouvi reprimenda
Nem emenda
Foi de chofre
Um choque
O que era uma contradança
Um contraponto
Perdeu o ponto de apoio
O palco sem contra-regra
Virou esbrega
Sem réplica
Sem tréplica
Nem controvérsia
O que era uma récita
Sem um verso sequer
Sacou lágrimas
Secou o riso
Sem um lenço
Um aceno
Uma cena acesa
Sem coro
Incolor
Virou cinzas
Um velório
Oratório
Rosário
Corolário
De desfiadas contas
De mágoas contundentes
Que como copófone dissonante
Soam em contratempo
No meu contrafeito conubente coração.

Um comentário:

Bruno disse...

Adorei seu jeito de brincar com as palavras, muito criativo.