8.7.08

O amor que não é mais feito, é desfeito, deserdado, desdenhado, dado ao lixo, lixado, rixado aos repelões, aos palavrões, partido, repartidos em caixas de papelão, então, isto é meu, eu quero, o que foi querido, partido em pedaços, despedaçados os laços, descompassados os passos, passa ao largo, larga isso, cada um agora é um, o que era dois é agora individuo, indiviso, infuso, infernal esparrame, derrame pelo chão de fotos, fatos descorados pelo desamor, delatado, denunciando o que antes eram diamantes de um tempo brilhante, radiante, exuberante, nós, enleados, enlevados, insânes de inominável arrebatamento, momentos mágicos, misteriosos, perenados em instantâneos Polaroides cromadas, atiradas cruamente, cruelmente, dementemente, lamentavelmente perdidos para o desprezo, expondo a publico a nudez do que foi íntimo, intimando-os a exibição vexatória, a olhares leigos, alheios, voyeurs, relegando-os a categoria de passado, desprezível, dispensado, a ser depreciado nas conversas infamantes, à apreciação de novos amantes, quando em rompantes de raivas revoltadas e revisitadas memórias doridas, porque, do vivido só soube guardar o que de pior, piolhos, percevejos, pulgas, lêndeas, lendas mal contadas, a serem repisadas, repetidas ao infinito, lamentável grito de você não soube me amar, quando se sabe que o amor depende de querer, comprometer-se com o momento, de minuetos a três tempos, dançado a baião de dois, dosado trago, tango, mambo, muita comédia e nunca tragédia, à media luz, iluminando a crença de que no outro somos muito mais que um perdido, um achado tesouro a ser resguardado de perigos, inimigos, piratas e piranhas, quando nos entranha e parece fazer parte do ser.


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